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PATRÍCIA
RIBEIRO
Cellista
Em dezembro de 1970 eu nasci. Numa família sem músicos. Contudo, e não sei por quê ou como, passei a minha vida em família ouvindo muita música popular brasileira. Cresci ouvindo. Diariamente. Aos sete anos comecei a pedir para ser pianista. Foram anos de lágrimas. Família sem recursos financeiros. Raiva do piano. Adolescência com muitos problemas familiares grandes e constantes. Violão abandonado em casa, sei lá por quê ele existia. Para ficar o menos possível em casa consegui que meus pais, finalmente, me pagassem um conservatório. Tudo isso em Campinas, cidade natal. Fui estudar música. Cheguei a ganhar Prêmio Revelação como violonista erudita. Como parte obrigatória do curso, tive de fazer um instrumento melódico como matéria complementar. Dois anos de violino. Estava participando da Orquestrinha do conservatório. Brincadeiras no cello da colega ao lado. Pronto. Não queria mais violão. Nem violino. Me formei em violão obrigada pelos meus pais. Nem diploma busquei. Estudar cello. Muito. Comecei tarde, com 18 anos. Meus pais, entre idas e vindas do casamento, nos mudaram para Minas Gerais. Época do meu vestibular. Desespero. Tive de prestar lá. Não tinha professor de nada, mas tinha de cello. Passei. Nove meses depois me rebelei e, às vésperas de completar 21 anos, vim para São Paulo. Sem nada e sem ninguém. Vim para morar de favor e prestar na Unesp. Passei. Estamos falando de janeiro de 1991. Julho de 1991 teste para Festival de Campos do Jordão e, no mesmo dia e local, teste para a Orquestra Jazz Sinfônica. Fiz e passei nos dois. Imediatamente começo a trabalhar na Orquestra. A partir desse momento começo a entrar em contato com a música popular. Principalmente com seus grandes interpretes. 1994 ingresso na Orquestra do Teatro Municipal de São Paulo onde permaneço até 2007. Passo, então, a ter uma vida musical dupla. Em 1995 recebo um convite do Toquinho para formar um quarteto de cordas e participar da turnê dos 20 anos de carreira dele. É nesse momento que sinto, pela primeira vez, o que é fazer um show, estar em um palco. Muitos shows e viagens com Toquinho. Turnê pela Itália. Na Jazz Sinfônica conheço e toco junto de grandes nomes. Em dezembro de 1999 raspo a cabeça. Busco minha identidade, minha independência num mundo cheio de rótulos nos quais eu não tinha encaixe. 2002 recebo um convite da Playboy para uma pequena entrevista com foto. Aceito o desafio, é a primeira vez, no mundo, que uma cellista sai nessa revista. Topei o desafio, pois ele tinha relação direta com meu desejo de sair do lugar comum, de trazer meu trabalho para a vida diária das pessoas, quebrar paradigmas, preconceitos. 2007 inesperadamente e sem planejamento saio do Teatro Municipal. A partir desse momento estou por minha conta e risco. Como musicista erudita fiz minha vida em uma rotina severa de horários e disciplina. Demanda de trabalho fixo de segunda a domingo e, principalmente, um salário fixo também. Era, musicalmente, profundamente infeliz. Não questionava. Não fui nunca ensinada a pensar ou questionar. Estava acomodada em algo que caminhava. Aí , e de repente, acabou. Meu mundo todo desabou e eu não tinha nenhum preparo para esse momento e nem com quem contar. E um filho para criar. Muito aprendizado. Rever valores. Reestruturar rotina. Humildade perante a vida. Muitos nãos. Perda de eixo. Desespero. Solidão. Sem saída. Paro de me debater. Tento parar de ter raiva, era muita. Tento controlar a dor. Começo, então a questionar o para onde quero ir. Essa é a primeira vez que faço isso em minha vida. Amigos na música popular no transcurso dos anos adquiridos. Chico César, amigo de 17 anos nesse momento, ressurge ao meu lado. Através dele passo a conviver com o que está vindo de novo musicalmente em São Paulo. Novos amigos da música. Contato direto com grandes cantores(as). E os novos também. 2008 faço um solo de cello com percussão no Prêmio Abril de Publicidade. Aí conheço Fernando Salem. 2008, buscando soluções, deixo um bilhete na casa de Jô Soares. Era para falar de uma idéia. Virou uma entrevista de 2 blocos no Programa do Jô. Por causa dessa entrevista, convite para abrir o Prêmio de Música Brasileira em 2009 no Rio de Janeiro. 2009 convite para participar do Programa Som Brasil. 2010 lançamento CD Fernando Salem. Nesse trabalho e através da pessoa dele começo a ver a música de uma outra forma. Muitas novas possibilidades. Abre meu horizonte. Me fortalece. Mais confiante e apropriada de mim mesma. 2010 Prêmio Bravo. Nele conhece mais novos importantes amigos na música como Letieres Leite e Jaques Morelenbaum. 2011 Prêmio Bravo. Consigo começar a ver meu futuro na música, meu futuro como instrumentista como minha responsabilidade e consequência de minha mente. Capacidade de ter idéias. Projetos. 2012 Creme Na Pele Do Samba. 2012 me sinto capaz de me apropriar da condição de ser violoncelista. 2012, finalmente, projeto de gravar meu CD solo. Nunca, em momento algum de meu trajeto, achei que seria capaz de querer isso.
- BIOGRAFIA -

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